1. PAULA CARINA DE ARAÚJO
O BIBLIOTECÁRIO E A FORMAÇÃO DE LEITORES
FLORIANÓPOLIS – SC
2007.
2. UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E GESTÃO DA
INFORMAÇÃO
PAULA CARINA DE ARAÚJO
O BIBLIOTECÁRIO E A FORMAÇÃO DE LEITORES
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de
Biblioteconomia e Gestão da Informação
da Universidade do Estado de Santa
Catarina - UDESC, para obtenção do
título de Bacharel em Biblioteconomia
com Habilitação em Gestão da
Informação.
Orientadora: Profª. Msc. Fernanda de
Sales
FLORIANÓPOLIS – SC
2007.
3. A663b
Araújo, Paula Carina de.
O bibliotecário e a formação de leitores / Paula Carina de Araújo;
orientadora: Fernanda de Sales. - Florianópolis, 2007.
70f. ; 30 cm.
Inclui referências.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade do
Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas e da
Educação, Departamento de Biblioteconomia e Gestão da
Informação, Florianópolis, 2007.
1. Bibliotecários. 2. Leitura. 3. Formação de leitores. 4. Incentivo à
leitura. 5. Rede Municipal de Ensino de Florianópolis-SC. I. Sales,
Fernanda. II. Título.
CDD 028.9
CDU 028.5
4. PAULA CARINA DE ARAÚJO
O BIBLIOTECÁRIO E A FORMAÇÃO DE LEITORES
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do
grau de Bacharel em Biblioteconomia com Habilitação em Gestão da Informação, no
curso de graduação em Biblioteconomia – Habilitação em Gestão da Informação do
Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED da Universidade do Estado de
Santa Catarina – UDESC.
Banca Examinadora:
Orientadora: ___________________________________________________
Profª. Mestre, Fernanda de Sales.
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Membro: ___________________________________________________
Profª. Mestre, Maria Emília Ganzarolli
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Florianópolis, dezembro 2007.
5. Aos meus pais, Tadeu e Bernadete, que
sempre me apoiaram e estiveram ao meu
lado nesta longa caminhada, eles fazem
parte da realização desse grande sonho.
6. AGRADECIMENTOS
Gostaria de prestar meus agradecimentos às pessoas que contribuíram para
a conclusão deste trabalho e do curso de graduação:
Aos meus pais, Tadeu e Bernadete, mesmo distantes fisicamente, agradeço
pelo apoio, incentivo e amor dedicados a mim nesses quatro anos e desde sempre.
Também aos meus irmãos, Vanessa e Matheus, pelo carinho incondicional, palavras
e ações de amor e amizade dia após dia.
Aos meus tios, Iracema e Marcio, e primos Francine e Ramon, por todo o
apoio, generosidade, compreensão e carinho. Sem o apoio deles este sonho não
seria alcançado.
Aos meus avós e ao meu tio Sebastião, pelo incentivo e ajuda para que eu
sempre me dedicasse aos estudos.
À minha amiga Fahima, pelo companheirismo, alegria, amizade e amor, com
quem compartilhei momentos de alegrias e tristezas. Juntas aprendemos e
crescemos profissionalmente e pessoalmente.
Aos colegas de curso, pela amizade e companheirismo nesses quatro anos.
Aos bibliotecários e demais funcionário que atuam nas instituições onde
estagiei, UDESC, SESC e Justiça Federal, pela oportunidade de poder colocar em
prática a teoria aprendida na universidade, mesmo antes da graduação.
Aos professores do Departamento de Biblioteconomia e Gestão da
Informação, por todo o conhecimento transmitido, pelo carinho, incentivo e
confiança.
Agradeço principalmente a minha orientadora, Fernanda de Sales, exemplo
de profissional, com quem aprendi desde as primeiras fases de curso, que o
bibliotecário é muito importante na sociedade e que este tem um papel social a
desempenhar. Obrigada pelo conhecimento compartilhado, pelo carinho, pelos
momentos de alegria e, sobretudo pela sua dedicação dia após dia.
7. “Ler como a ação do vento, é ser
gostosamente levado, rasgado e
ensinado. Some a essa gostosura a
liberdade de todo o processo mesmo
porque interpretando, nada mais fazemos
que movimentar e relacionar recordações
que são sempre propriedades
exclusivamente nossas”.
Ezequiel Theodoro da Silva
8. RESUMO
Este estudo buscou conhecer a percepção dos bibliotecários das escolas da Rede
Municipal de Ensino de Florianópolis-SC enquanto formadores de leitores. A
pesquisa caracteriza-se como qualitativa, exploratória e descritiva. A entrevista semi-
estruturada foi utilizada como instrumento de coleta de dados e foram entrevistados
nove bibliotecários atuantes em bibliotecas da Rede Municipal de Ensino de
Florianópolis-SC (regiões norte, sul, leste, centro e continente), constituindo-se como
população da pesquisa. Abordaram-se os conceitos de leitura, biblioteca escolar,
formação de leitores e a relação do bibliotecário com a leitura. Para a organização e
análise dos dados optou-se pelo método da categorização, reconheceram-se oito
categorias a partir dos dados coletados, são elas: importância da leitura, atividades
de incentivo à leitura, formação de leitores, o bibliotecário e a formação de leitores,
interação entre o bibliotecário e o corpo docente, bibliotecário como formador de
leitores, habilidades necessárias para a atuação como formador de leitores e
conversa informal. Pôde-se constatar que os bibliotecários em questão têm clareza
que a leitura é fundamental na vida do estudante, que a formação de leitores é uma
prática importante e que eles estão inseridos nesse processo primordial na escola.
Palavras-chave: Bibliotecário. Leitura. Formação de leitores. Incentivo à leitura.
Rede Municipal de Ensino de Florianópolis.
9. LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Importância da leitura. ........................................................................... 36
Quadro 2 – Atividades de incentivo à leitura. ........................................................... 39
Quadro 3 – Formação de leitores. ............................................................................ 43
Quadro 4 – O bibliotecário e a formação de leitores. ............................................... 46
Quadro 5 – Interação entre o bibliotecário e o corpo docente. ................................. 48
Quadro 6 – O bibliotecário como formador de leitores. ............................................ 52
Quadro 7 – Habilidades necessárias para a atuação como formador de leitores..... 54
Quadro 8 – Conversa informal. ................................................................................. 57
10. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2 METODOLOGIA.................................................................................................... 13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 18
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 18
3.1 LEITURA ............................................................................................................. 18
3.2 A BIBLIOTECA ESCOLAR .................................................................................. 21
4 A FORMAÇÃO DE LEITORES ............................................................................. 25
4.1 O BIBLIOTECÁRIO COMO FORMADOR DE LEITORES ................................... 29
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................... 35
5.1 IMPORTÂNCIA DA LEITURA ............................................................................. 35
5.2 ATIVIDADES DE INCENTIVO À LEITURA ......................................................... 37
5.3 FORMAÇÃO DE LEITORES ............................................................................... 42
5.4 O BIBLIOTECÁRIO E A FORMAÇÃO DE LEITORES ......................................... 45
5.5 INTERAÇÃO ENTRE O BIBLIOTECÁRIO E O CORPO DOCENTE ................... 47
5.6 BIBLIOTECÁRIO COMO FORMADOR DE LEITORES....................................... 51
5.7 HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA A ATUAÇÃO COMO FORMADOR DE
LEITORES ................................................................................................................ 54
5.8 CONVERSA INFORMAL .................................................................................... 56
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 59
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 62
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .............................................................................. 66
APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA .......................................................... 68
APÊNDICE 2 – AUTORIZAÇÃO .............................................................................. 69
APÊNDICE 3 – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO .......................................................... 70
11. 10
1 INTRODUÇÃO
O ambiente escolar é o espaço onde são desenvolvidas competências em
cada indivíduo desde a infância. Essas competências proporcionarão o seu
desenvolvimento intelectual, o entendimento da realidade em que vivem e o
exercício da cidadania.
Uma das habilidades desenvolvidas nos educandos neste ambiente é a
leitura. Para tanto é importante entender a leitura como um processo fundamental
para os que querem se inserir no mundo letrado. O ato de ler vai muito além de
simplesmente decifrar o alfabeto, é preciso entender o que está sendo lido e
transformar o conhecimento adquirido em fator de transformação pessoal, social e
política.
Sabe-se que o Brasil não é caracterizado como um país de leitores, daí a
necessidade crescente de estudos na área e esforços para que esse quadro seja
modificado. Portanto, a leitura é uma prática que precisa ser ensinada desde a
infância, e para que isso aconteça efetivamente nas escolas brasileiras é necessária
uma preocupação com a formação de leitores.
Conseqüentemente, mostra-se indispensável à figura dos formadores de
leitores no ambiente escolar e familiar, pode-se citar três agentes principais
incentivadores do gosto pela leitura: os pais, os professores e os bibliotecários. Aos
pais cabe a responsabilidade de possibilitar o primeiro contato da criança com o
livro, através da leitura de história, por exemplo. Os professores irão alfabetizá-la e
mostrar um horizonte imenso de possibilidades de leituras juntamente com o
bibliotecário que instruirá a mesma criança no uso das fontes de informação,
mediará o acesso da criança ao livro e irá desenvolver ações que incentivem o gosto
pela leitura e pelos livros.
Para que o incentivo ao gosto pela leitura seja uma constante na escola, a
existência de uma biblioteca escolar ativa é um fator fundamental. Sabe-se que a
biblioteca escolar é um instrumento que pode auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem, por isso as ações ligadas a ela precisam ser dinâmicas.
Provavelmente, este é o primeiro tipo de biblioteca que a criança freqüentará,
12. 11
portanto este primeiro contato precisa ser amigável e eficaz para que ela se torne
uma freqüentadora assídua.
A biblioteca escolar deve funcionar como um centro de informação, espaço de
pesquisa, produção cultural, disseminação da informação, produção de
conhecimento, incentivo a leitura e conseqüentemente local de formação de leitores.
Como já foi dito anteriormente, para que aconteça efetivamente a formação de
leitores é necessário que existam agentes que sejam responsáveis por esse
processo.
Sabe-se que a educação no Brasil está em crise, são poucos os
investimentos nesse setor fundamental para o desenvolvimento do país. É possível
perceber o descaso com relação ao ensino através das bibliotecas escolares tão
esquecidas no cotidiano escolar, por exemplo. Para mudar este quadro, mesmo com
poucos recursos, existe um profissional apto a tornar a biblioteca escolar ativa, o
bibliotecário.
Esta pesquisa surge do questionamento desta acadêmica com relação à
responsabilidade do bibliotecário escolar enquanto agente formador de leitores e se
o mesmo entende-se como tal. Tendo em vista que a biblioteca escolar é um espaço
destinado ao fazer pedagógico, o bibliotecário precisa agir como um educador. Ele é
considerado um dos agentes formadores de leitores dentro da escola e, portanto,
precisa desenvolver competências para sua atuação. É no ambiente escolar que
este profissional poderá demonstrar sua atuação mais humanizada e não estará
restrito apenas às atividades de gestão e tratamento técnico do acervo. Uma das
possibilidades é pensar-se como formador de leitores.
Nesse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo geral conhecer a
percepção dos bibliotecários das escolas da Rede Municipal de Ensino de
Florianópolis-SC enquanto formadores de leitores. E delinearam-se como objetivos
específicos, apresentar a importância da leitura desde a infância como fator de
transformação pessoal, social e política; contextualizar e entender no que consiste a
formação de um leitor; reconhecer as características de um formador de leitores e
levantar as dificuldades encontradas pelos bibliotecários acima referidos com
relação à formação de leitores.
A Rede Municipal de Ensino de Florianópolis – SC é um espaço de atuação
do profissional da informação já consolidado há alguns anos, desde a criação do
cargo de bibliotecário. Entretanto é importante que este profissional desempenhe
13. 12
com responsabilidade suas funções para receber reconhecimento e apoio em suas
ações, além de contribuir com a educação e, possivelmente, conquistar futuramente
seu espaço nas bibliotecas do Estado de Santa Catarina.
Os pesquisados foram entendidos como agentes formadores de leitores. Mas
será que os referidos bibliotecários se consideram formadores de leitores? Será que
eles encontram dificuldades na sua atuação? Quais são as suas características
profissionais? O que os torna formadores de leitores? As respostas para essas
perguntas serão apresentadas no decorrer desse texto.
Este primeiro capítulo introdutório é seguido do capítulo dois, composto da
metodologia utilizada para a realização da pesquisa. Posteriormente, no capítulo
três, será apresentada uma revisão bibliográfica incluindo conceitos como leitura e
biblioteca escolar. No quarto capítulo é feita uma abordagem sobre a formação de
leitores e posteriormente a relação do bibliotecário com esse processo. O sexto
capítulo, por sua vez, apresenta os dados colhidos durante as entrevistas seguido
da análise dos mesmos, e o sétimo e último capítulo expõe as considerações finais.
A educação é a base para o desenvolvimento de um país. Refletir sobre a
prática da leitura desde a infância contribui para que sejam formados cidadãos
críticos e dotados de conhecimento. Partindo do pressuposto de que a formação de
leitores hoje se constitui como desafio à educação brasileira considerou-se esta
pesquisa fundamental. Formar leitores é muito mais que ensinar a ler, é dar
significado ao ato de ler. É preparar o cidadão para a chamada sociedade da
informação, torná-lo apto a entender a sua realidade, é também demonstrar que a
leitura pode ser uma fonte de lazer e desprendimento.
14. 13
2 METODOLOGIA
Com relação à abordagem, a presente pesquisa é qualitativa, pois busca a
compreensão de um fato e pretende reconhecer a percepção de um grupo de
pessoas com relação a uma ação. Para ALVES (2003, p. 56) a pesquisa qualitativa
tem como características:
[...] - o pesquisador procura captar a situação ou fenômeno em toda a sua
extensão; - trata de levantar possíveis variáveis existentes e na interação, o
verdadeiro significado da questão, daí a experiência do pesquisador ser
fundamental; - o pesquisador colhe informações, examina cada caso
separadamente e tenta construir um quadro teórico geral (método indutivo).
Quanto aos objetivos, a pesquisa a ser desenvolvida é do tipo exploratória e
descritiva. Num primeiro momento ela é exploratória porque se objetiva conhecer e
explorar o espaço de atuação dos bibliotecários responsáveis pelas Bibliotecas
Escolares da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis – SC. E como ponto
principal conhecer as opiniões desses profissionais quanto a sua própria atuação
nesse espaço. SELLTIZ et al. (1967, p. 63 apud GIL, 2007, p. 41) caracteriza a
pesquisa exploratória como aquela que tem:
[...] como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que
estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a
descoberta de instituições. Seu planejamento é, portanto bastante flexível,
de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos
relativos ao fato estudado.
A pesquisa descritiva segundo Alves (2003), descreve as características de
uma população ou de um fenômeno, ou ainda estabelece relações entre fenômenos.
Portanto, posteriormente a pesquisa caracterizar-se-á como descritiva porque a
partir da coleta de dados será feita uma descrição da percepção dos bibliotecários
quanto a sua participação na formação de leitores.
Gil (2007, p.42) afirma que: As pesquisas descritivas têm como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno
ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.
A população deste estudo é composta pelos bibliotecários responsáveis
pelas Bibliotecas Escolares da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis – SC.
15. 14
Em 1998 o cargo de bibliotecário passou a existir no quadro funcional da
Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, nesse momento, a maioria dos
profissionais bibliotecários ingressou na rede municipal. Antes disso, três
bibliotecários atuavam em bibliotecas, mas ocupavam outros cargos (SALES, 2005).
Atualmente, segundo dados do site da Secretaria Municipal de Educação, na
Rede Municipal de Ensino de Florianópolis existem 37 (trinta e sete) escolas de
ensino fundamental, e a atuação do profissional bibliotecário pode ser verificada em
29 (vinte e nove) dessas escolas.
Tendo em vista o grande número de profissionais, fez-se uma seleção. A
partir da listagem de escolas e bibliotecários da Rede Municipal de Ensino de
Florianópolis – SC, disponível no site da prefeitura, foram selecionados dois
bibliotecários atuantes em bibliotecas de escolas de cada uma das regiões (norte,
sul, leste e centro) do município de Florianópolis – SC, totalizando 8 (oito)
pesquisados.
Entre os bibliotecários entrevistados 4 (quatro) ingressaram na rede no ano
de 1998, 2 (dois) após o concurso de 2004 e 3 (três) em 2005, numa segunda
chamada do concurso ocorrido no ano anterior.
Segundo Santos (2006), a Secretaria Municipal de Educação de
Florianópolis coordena o Departamento de Mídia e Conhecimento, onde a
Coordenadoria de Bibliotecas Escolares e Comunitárias (CBEC) está inserida
juntamente com o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE). Esse Departamento
objetiva dinamizar o uso das mídias no processo educativo.
A Coordenadoria de Bibliotecas Escolares e Comunitárias desenvolve
atividades para colaborar no processo educativo, visando à formação de leitores, o
fomento a cultura e o estímulo à leitura no âmbito escolar e comunitário. Tem como
funções planejar, organizar e executar ações relativas às bibliotecas pertencentes à
Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, cabendo a mesma, oferecer
continuamente formação aos bibliotecários e auxiliares de biblioteca, bem como dar
suporte as atividade e/ou serviços técnicos e pedagógicos realizados nas
bibliotecas, também coordenar a informatização das bibliotecas e adquirir os mais
variados tipos de acervo, equipamentos e mobiliário (PROJETO, 2006).
O que condicionou a escolha desse universo para esta pesquisa, foram as
características de trabalho diferenciadas desses profissionais, pois realizam um
trabalho em rede. Esse trabalho conjunto propicia a troca de idéias e o
16. 15
aperfeiçoamento coletivo dos bibliotecários, pois segundo a Coordenadora da Rede
de Biblioteca, eles participam de encontros periódicos, momentos em que podem
compartilhar seus conhecimentos, problemas e soluções encontradas.
A técnica de coleta de dados escolhida é a entrevista semi-estruturada (Ver
Apêndice 1). Uma das vantagens da entrevista é a possível interação entre
entrevistador e entrevistado. A entrevista semi-estruturada, apesar de delinear um
roteiro, pode ser flexível, proporcionando certa liberdade para a fala do entrevistado.
Sobre esta modalidade de coleta de dados, CHIZZOTTI (2001, p. 45) afirma
que:
[...] é uma comunicação entre dois interlocutores, o pesquisador e o
informante, com a finalidade de esclarecer uma questão. Pode ser livre (o
informante discorre como quiser sobre o assunto), estruturada (o informante
responde sobre algumas perguntas específicas), ou semi-estruturada
(discurso livre orientado por algumas perguntas chaves).
O primeiro contato foi estabelecido com a coordenadora das bibliotecas
escolares e comunitárias em julho de 2007. Foi-lhe apresentado um resumo do
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso junto com uma carta de apresentação
da pesquisadora, elaborada pela orientadora da pesquisa. Ao ler o projeto e verificar
o número de bibliotecários que foi escolhido para serem entrevistados, a
coordenadora sugeriu que fosse acrescido mais um bibliotecário atuante na região
continental de Florianópolis-SC, já que esta região não havia sido contemplada. A
sugestão foi aceita, o que resultou em 9 (nove) bibliotecários entrevistados, sendo
dois de cada uma das regiões norte, sul, leste, centro e um do continente.
Após a leitura do projeto e aprovação da realização da pesquisa, a
coordenadora encaminhou uma comunicação interna, para os bibliotecários
selecionados, informando o interesse da pesquisadora em realizar uma entrevista
com os mesmos. Então, pediu que fosse feito um contato com os bibliotecários por
telefone ou e-mail para agendar a data e horário de cada entrevista.
De posse da lista de bibliotecários selecionados, o contato foi feito por
telefone. A cada telefonema, a pesquisadora se apresentou, esclareceu o tema de
pesquisa e então questionou se o profissional estava ou não disposto a colaborar
com a pesquisa cedendo uma entrevista que seria gravada e orientada por um
roteiro pré-definido.
17. 16
Felizmente todos os bibliotecários aceitaram participar da pesquisa como
entrevistados. Quando da resposta positiva, a acadêmica questionava qual o horário
e dia melhor para agendar a conversa, tendo em vista que os bibliotecários têm
muitas atividades nas bibliotecas onde trabalham, e geralmente dispõe de um dia
durante a semana sem atendimento ao público. Conforme a disponibilidade dos
mesmos, as entrevistas foram agendadas no decorrer do mês de agosto e início de
setembro sempre no período da manhã.
Antes de iniciar a entrevista, a acadêmica novamente explicava aos
bibliotecários o tema de pesquisa e a importância da mesma. Posteriormente era
esclarecido que a entrevista seria gravada e que os dados seriam utilizados com um
único fim, a realização do Trabalho de Conclusão de Curso. Portanto, era assinada,
pela acadêmica e pelo respondente, uma autorização para utilização dos dados e
omissão do nome deste último na pesquisa (Ver Apêndice 2). Ainda antes de iniciar
a entrevista foram solicitados alguns dados pessoais para a posterior organização
das entrevistas pela acadêmica. Para tanto, utilizou-se uma ficha de identificação
(Ver Apêndice 3).
À medida que foram feitas as entrevistas, iniciou-se a transcrição das
mesmas na íntegra. Essa transcrição possibilitou melhor visibilidade dos dados
coletados e facilitou a organização dos mesmos posteriormente.
O método utilizado para a organização dos dados foi a categorização, pois
conforme afirma Chizzotti (2006) as categorias servem:
para dispor os elementos do conteúdo. Variam em cada análise em função
dos objetivos e hipóteses e podem ser meramente descritivas (categorias
de assunto) ou interpretativas (categorias de opinião, valores). Devem ser
sempre homogêneas, caracterizadas por um critério de classificação;
objetivas de tal modo que, diante dos mesmos elementos, outros
observadores possam classificar na mesma categoria; pertinentes,
enquanto correspondam aos objetivos desejados; exclusivas de tal forma
que um elemento figure em somente uma categoria; e exaustivas, arrole
todo conteúdo do documento analisado.
Alves (2003), diz que a utilização da categorização em pesquisas qualitativas
é muito comum e acredita que no momento de criação das categorias deverá ser
retomado o referencial teórico do estudo, portanto o pesquisador precisa estar
impregnado do conteúdo de seu texto para retirar dele as categorias, e então buscar
no registro das falas dos entrevistados os momentos em que elas aparecem.
Posteriormente, essas categorias levantadas no discurso dos entrevistados serão
18. 17
organizadas e se tornarão foco de reflexão, o que, segundo a autora, possibilita um
salto para o novo, para a descoberta, favorecendo o advento de uma contribuição
científica no campo estudado.
Nessa pesquisa, a partir das perguntas e respostas realizadas durante as
entrevista, foram criadas categorias, que receberam cada uma um título ou termo
genérico que a represente. Para melhorar a compreensão dos dados levantados,
optou-se pela utilização de quadros para a apresentação dos mesmos. Cada quadro
apresenta uma categoria seguida das diversas opiniões e reflexões dos
entrevistados. Pode-se apontar como vantagem da utilização deste método, a
possibilidade de serem apresentadas todas as reflexões dos entrevistados e não
somente as que tiverem maior incidência, ou que foram mais expressivas.
Posteriormente, iniciou-se a etapa de análise dos dados organizados.
Percebe-se que no decorrer da pesquisa foi seguida a metodologia proposta no
projeto de trabalho de conclusão de curso, o que proporcionou uma visão nítida das
opiniões dos bibliotecários da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, além de
reconhecer suas necessidades, interesses e sua forma de atuação profissional.
19. 18
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Será apresentada a revisão bibliográfica tomada como base para o
desenvolvimento dessa pesquisa, a mesma também auxiliou para o alcance do
objetivo geral e dos específicos. Foram desenvolvidas duas subseções, onde foram
abordou-se os conceitos e a importância da leitura, além da biblioteca escolar
enquanto ambiente que propicia o desenvolvimento do gosto pela leitura.
3.1 LEITURA
Desde os primeiros anos da história do Brasil, o acesso ao livro e à leitura
estava limitado às classes mais favorecidas. Esse período foi caracterizado pela
quase ausência da leitura no cotidiano da sociedade. A forma de educação presente
no Brasil - colônia era basicamente a catequização dos índios pelos jesuítas. A esse
respeito Lajolo e Zilberman (1991, p.76 apud ALMEIDA JUNIOR, 1997, p. 41)
afirmam que:
Esse período brasileiro não se salientou pela intensidade da vida cultural.
Isso obviamente se dá pelo momento histórico vivido na época, pelas
conseqüências de uma terra colonizada, mas, também, porque não era
apenas o Brasil que “era vítima de um ambiente claustrofóbico, do ponto de
vista intelectual: o Portugal anterior à atividade de Pombal era dominado por
religiosos conservadores e vivia ainda sob a égide da Santa Inquisição”.
Com o passar dos anos, o objeto livro foi se inserindo na sociedade brasileira.
Foram surgindo livrarias, aconteceu a instalação da Imprensa Régia, a Biblioteca
Real Portuguesa foi trazida para o Brasil e as bibliotecas particulares eram cada vez
mais comuns entre os letrados. A leitura começa a ser vista como meio de
divulgação de idéias importante e de grande impacto social.
Entretanto, segundo Koshiyama (1982 apud ALMEIDA JUNIOR, 1997), no
Brasil do século XIX, 80% da população era analfabeta e não tinha acesso às
escolas primárias, o que acarretava a ausência de leitores. Os que realmente tinham
20. 19
acesso ao livro e à leitura eram estudantes, professores, comerciantes, funcionários,
militares e senhoras da alta sociedade.
Essa grande deficiência nas escolas desde os primeiros anos de história do
país reflete na sociedade atual. Quando se fala que o Brasil não é caracterizado por
um país de leitores, pode-se identificar a raiz desse problema nos seus primeiros
anos de história. A população de classes menos favorecidas sempre esteve à
margem da sociedade, ainda hoje muitos não tem acesso à escola e
conseqüentemente à leitura. Inúmeros são os fatores que envolvem a
democratização da leitura, segundo Souza, Marinho e Araújo (1993, p.3) essa
democratização:
[...] está condicionada à democratização política de nossa sociedade. Isso
demanda uma forte transformação na estrutura social e econômica do país,
significando, também, uma luta política pela conquista de melhores
condições de vida para as classes trabalhadoras. Essa melhoria de
qualidade de vida seria representada por melhores salários, empregos,
transporte, moradia, por fim, acesso à informação e ao conhecimento. Por
conseguinte, dissociar democratização da leitura das demais lutas sociais e
políticas constitui uma atitude ingênua, desvinculada de todo um processo
dialético inerente às sociedades humanas.
Ainda nesse contexto, Silva (2003b) afirma que existe uma complexa relação
1 2
entre leitura, conhecimento e cidadania e que essa trilogia precisa ser levada
para o cotidiano da sociedade brasileira à luz da nossa historicidade, dos nossos
problemas e contradições. Pode-se dizer que somente ao estabelecer uma estreita
ligação entre leitura, conhecimento e cidadania é que será possível configurar-se um
país de verdadeiros cidadãos, aptos a exercer seus deveres, entender a realidade
em que vivem, a cobrar e fazer uso de seus direitos.
A partir desses pontos de vista, torna-se importante pensar que a leitura é um
ato que possibilita ao indivíduo a expansão de seus conhecimentos e sua inserção
na sociedade. Inicialmente, o ato de ler caracteriza-se pelo decifrar de códigos, mas
logo assume caráter de interpretação, pois o leitor precisa atribuir significado ao
1
Para Davenport e Prusak (2003), o conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada,
valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a
avaliação e incorporação de novas experiências e informação. Considera que ele tem origem e é
aplicado na mente dos conhecedores.
2
Levando em consideração que a leitura é uma prática social, Marinho (1993) concebe a cidadania
como um conjunto de direitos e deveres do indivíduo na sociedade. A autora diz que o homem
precisa ter seus direitos assegurados no seu dia a dia e não apenas em documentos. Considera que
somente através de uma participação ativa na vida em sociedade serão garantidos seus direitos,
essa participação se dá de várias formas, entre essas formas está a leitura.
21. 20
texto que está ao seu alcance. Então ele estará apto para avaliar e construir uma
visão crítica do que lhe é proposto através da palavra escrita.
Inúmeras são as definições que caracterizam a leitura, mas com muita poesia
Silva (2003b, p. 28) consegue transmitir que metaforicamente falando:
[...] o movimento da leitura, igual aos faróis de um carro, vai abrindo clarões
à nossa frente, vai iluminando os trajetos através de uma união sintonizada
entre os nossos olhos e as regiões centrais do nosso cérebro. Durante a
viagem, ou melhor, a leitura, vamos construindo idéias, imagens e outras
configurações das mais variadas, conforme o propósito que dá sustentação
ao ato.
Partindo do pressuposto de que a leitura é uma prática presente no ambiente
escolar desde a infância, é inegável que este é um processo que precisa ser
valorizado pelos diversos agentes incentivadores da leitura dentre os quais,
podemos destacar os pais, professores e bibliotecários. Ler é sobretudo
compreender o texto que está ao alcance do leitor. Para que o aluno desenvolva
efetivamente suas competências de leitor, ele precisa ser ensinado, acompanhado e
incentivado à prática da leitura desde os seus primeiros anos nas cadeiras
escolares.
Para Pandini (2004, p. 98) o ato de ler é generosamente um ato de
compreensão onde se é tomado pelo dito, que numa reivindicação pode alcançar o
não dito.
Segundo Freire (1989) antes das crianças serem leitoras da palavra, elas
precisam ser leitoras do mundo em que vivem, para então poderem entender o texto
escrito e inserí-lo no seu cotidiano, possibilitando o entendimento da realidade em
que vivem. Para compreender a palavra escrita é preciso ter imaginação aguçada,
curiosidade e vontade de aprender.
É importante ensinar a leitura como uma forma de desprendimento, ação
prazerosa que aguça a imaginação. Além de ser útil para a alfabetização, o ato da
leitura deve proporcionar momentos de lazer. Encarando a leitura como prática
prazerosa e produtiva Pandini (2004, p.98) diz que:
[...] o diálogo travado com o livro, dentro ou fora da escola, pode deixar
marcas para sempre, a apropriação do material lido dificilmente será
esquecido se a leitura vier de uma conquista, de uma “relação amorosa” e,
se na escola se revelar uma prática prazerosa e descolada de uma
obrigação – do compromisso com o conhecimento; esse será uma
conseqüência.
22. 21
Para que a leitura se consolide como prática comum e desligada da
obrigatoriedade, é preciso planejar com muita atenção e cuidado a melhor forma de
apresentar a leitura às crianças desde seus primeiros anos na escola. Este zelo está
inserido no processo de formação de leitores, que deve tornar-se atividade comum
para os bibliotecários. Talvez dessa forma o ato de ler se transforme de um hábito a
uma ação prazerosa no cotidiano escolar.
3.2 A BIBLIOTECA ESCOLAR
Um dos espaços onde ocorre a formação de leitores, provavelmente o mais
importante, é a biblioteca escolar que, segundo a IFLA (1999) pode ser
caracterizada como um espaço que propicia informação e idéias fundamentais para
o funcionamento bem sucedido do ensino na atual sociedade, baseada na
informação e no conhecimento. Ela habilita os estudantes para a aprendizagem ao
longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-os para viver como cidadãos
responsáveis.
No Brasil, infelizmente vive-se uma realidade onde o descaso com relação à
biblioteca escolar ainda existe, inúmeras escolas sobrevivem com a ausência de
bibliotecas ou então, apenas funcionam como verdadeiros depósitos de livros. Há
alguns anos Silva (1995), afirmava que a situação da biblioteca escolar era de
verdadeiro silêncio, pois silenciavam as autoridades, os pesquisadores a ignoravam,
os professores se calavam e os bibliotecários se omitiam. Atualmente pode-se dizer
que esta situação se alterou um pouco, alguns programas de incentivo à criação e
revitalização de bibliotecas vêm surgindo, bibliotecários estão aos poucos ocupando
seus espaços e pesquisas se tornam mais comuns. Entretanto, ainda não é o
suficiente para se dizer que a biblioteca escolar é uma instituição ativa na maioria
das instituições escolares do país, conforme a colocação de Fragoso (2005, p. 172),
que ao concluir seu artigo enfatiza que,
23. 22
as bibliotecas nas escolas estão ainda distantes de serem aquele espaço de
conhecimento e prazer, seja nas instituições públicas ou privadas. O que se
encontra, na maioria das vezes, são iniciativas pessoais – indivíduos que
descruzam os braços e buscam fazer a diferença com sua atuação
profissional e assim contemplam a comunidade em que se inserem.
Durante muito tempo, quando se falava em biblioteca, logo se remetia ao local
destinado à guarda de livros, depósito do conhecimento. Hoje, a biblioteca é
entendida a partir de uma perspectiva mais abrangente. Mais importante do que
local de guarda, a biblioteca é local de acesso a inúmeras informações e
documentos, em diferentes suportes. Espaço onde há troca de informações,
produção de conhecimento e onde podem ser vivenciadas horas de lazer e distração
através da leitura. Como afirma Caldin (2003, p.8), a biblioteca escolar é o local por
excelência para apresentar a leitura como uma atividade natural e prazerosa, posto
que para muitas crianças, configura-se como a única oportunidade de ter acesso aos
livros que não são didáticos.
Com relação às funções da biblioteca escolar, Stumpf (1987 apud CALDIN,
2003, p.9) diz que apesar do enfoque dado às bibliotecas escolares ser quase
sempre o de suporte informacional ao estudo e à pesquisa, constituem-se como
suas funções desempenhar um papel educativo, político, cultural e social. O primeiro
porque representa apoio no desenvolvimento das atividades curriculares, o segundo
porque está ligada à democratização e possibilidade a todos os alunos de acesso
aos livros, o terceiro porque a biblioteca é depositária dos conteúdos da cultura e o
último porque deve funcionar como centro de lazer da comunidade escolar.
Ainda com relação às funções da biblioteca escolar, é importante destacar a
colocação de Souza, Marinho e Araújo (1993, p.4) e seu entendimento da
importância da biblioteca escolar na sociedade quando dizem que:
As bibliotecas e os bibliotecários são agentes da problemática da leitura e
de sua relação no desenvolvimento da Nação. Evidentemente, as funções
gerais da biblioteca são relevantes em qualquer país, mas deveriam
merecer maior atenção nos países e regiões menos privilegiados, onde a
população, por dispor de menos recursos pessoais, precisa de maior apoio.
No Brasil, essa instituição pode, sem dúvida, colaborar para reduzir as
diferenças sócio-culturais. Esta assertiva é baseada em vários estudos que
têm demonstrado como as bibliotecas, ao longo do curso da História,
ocuparam uma parte da organização social que cresceu e se diversificou
para atender às mudanças e necessidades sociais.
No decorrer desta pesquisa têm-se dado destaque ao incentivo ao gosto pela
leitura como fator de cidadania, condicionado a isso, Caldin (2003) diz que devem
24. 23
ser estabelecidas metas a serem cumpridas no espaço da biblioteca escolar como,
reunir crianças para ouvir histórias, despertar nas crianças o desejo de ler ou contar
histórias às outras, desembaraçar atitudes, abolir inibições e a timidez, por meio de
reprodução oral das leituras, ressaltar os diferentes tipos de temperamentos
encontrados nas personagens das histórias, para assim as crianças aprenderem a
conviver em sociedade e também proporcionar a reflexão e o questionamento.
Não há dúvidas de que a biblioteca escolar é uma instituição essencial no
ambiente escolar, portanto é importante refletir e procurar seguir o que Cavalcante
(2005a, p.5) propõe:
Políticas e programas de constituição e dinamização de acervos, de
formação de leitores e estímulo à pesquisa representam passos decisivos à
implementação e implantação de bibliotecas, cujas funções possam
caminhar com as diferentes propostas e concepções de se elevar o nível da
educação no Brasil.
Ainda com relação à importância da biblioteca escolar, Andrade (2002) diz
que segundo pesquisa realizada na Universidade de Denver, nos Estados Unidos,
os estudantes de escolas que mantêm bons programas de bibliotecas aprendem
mais e obtêm melhores resultados em testes padronizados do que alunos de
escolas com bibliotecas deficientes. Ficou provado que um bom programa de
biblioteca, contando com profissional especializado, equipe de apoio treinada,
acervo atualizado e constituído por diversos tipos de materiais informacionais e
tecnológicos, resultou no melhor aproveitamento escolar dos estudantes,
independente das características sociais e econômicas da comunidade onde a
escola estivesse localizada. Afinal,
o processo de ensino-aprendizagem passa, necessariamente, pela
biblioteca como espaço de trânsito determinante à articulação de sabres e
de dimensões antes ignoradas no processo pedagógico de formação
humana, relacionadas ao “ser”, “conhecer” e “aprender” como partes de um
todo. (CAVALCANTE, 2005a, p.4).
Todas as reflexões acerca da biblioteca escolar foram feitas objetivando
valorizá-la e apresentá-la como local de formação de leitores, que como já foi visto,
constitui-se em uma de suas funções. Carvalho (2002) aponta três elementos que
estruturam o novo conceito de biblioteca como lugar de formação de leitores, que
são: uma coleção de livros, e outros materiais, bem selecionados e atualizados; um
ambientes físico concebido como espaço de comunicação não apenas de
25. 24
informação, que leve em conta a corporalidade da leitura da criança e do
adolescente, isto é, os seus modos de ler; e por último, mas não menos importante
no processo de promoção da leitura, a figura do mediador.
Pode-se dizer que nas bibliotecas escolares, principalmente na educação
infantil e nas séries iniciais, a atividade diretamente relacionada ao serviço de
3
referência é o incentivo à leitura e a formação de leitores. Cavalcante (2005a)
afirma que a formação do leitor é um processo complexo, portanto exige que seja
desenvolvida de forma prazerosa e dinâmica. A autora sugere que atividades,
ligadas à leitura, realizadas pelos professores em sala de aula, sejam transferidas
para a biblioteca e realizadas em conjunto com o bibliotecário.
Até o momento pode-se constatar que a formação de leitores é condição para
o desenvolvimento sadio da sociedade atual, pois pessoas que mantêm o gosto pela
leitura estão aptas a atuarem em sociedade, melhorar seu desempenho como
profissionais e para enfrentar problemas de ordem pessoal e social. Diversos fatores
e agentes foram apontados como facilitadores do processo, cabe no momento
entender no que consiste a formação de leitores e também falar do principal
mediador entre as pessoas e o livro, seja no ambiente escolar, universitário ou em
sociedade, o bibliotecário, conhecido também como o profissional da informação que
hora assume o papel de formador de leitores, é ele o responsável pela biblioteca e
quem irá possibilitar a sua dinamização.
3
Segundo Macedo e Modesto (1999), o serviço de referência e informação, consiste na assistência
pessoal aos usuários, abrangendo desde a resposta a uma indagação aparentemente simples até o
fornecimento de informação apoiada em busca bibliográfica. Neste processo é estabelecido um tripé
entre usuário, informação e bibliotecário.
26. 25
4 A FORMAÇÃO DE LEITORES
A leitura e a escrita são ações comuns na escola em qualquer lugar do
mundo. Como já vem sendo discutido desde os primeiros capítulos desse trabalho,
em alguns momentos a leitura é entendida de forma mecânica. Para que esse
quadro seja alterado, torna-se essencial a reflexão com relação à formação de
leitores. Como propõe Villardi (1999, p.37), ensinar a gostar de ler é:
[...] ensinar a se emocionar com os sentidos e com a razão (porque, para
gostar apenas com os sentidos, não há necessidade de interferência da
escola); e, por isso, é preciso ensinar a enxergar o que não está evidente, a
achar as pistas e a retirar do texto os sentidos que se escondem por
4
detrás daquilo que se diz.
Os primeiros indícios de práticas estruturadas para a formação de leitores nas
escolas brasileira se deram entre os anos 70 e 80. Foi nessa época que aconteceu a
emergência da literatura infantil no mercado editorial nacional, ainda carregada de
alguns preconceitos. Nesse momento percebe-se que:
Assim sendo, a promoção da freqüência ao livro significa, de um lado, a
valorização do ato de ler como uma prática vital para o posicionamento do
indivíduo no mundo; de outro, entretanto, a afirmação deságua num reforço
dos procedimentos consumistas que assinalam a sociedade burguesa.
(YUNES, 1984, p.15).
A formação do leitor infantil caracteriza-se pelo planejamento de atividades
que incentivem o gosto pela leitura, está diretamente ligado ao simples fato de
facilitar o contato da criança com o livro. Para que as atividades de formação de
leitores sejam efetivas Yunes (1984) propõe uma reflexão em torno de três questões
fundamentais: a primeira questão está relacionada à motivação que cada indivíduo
tem para ler, então, Por que ler? A segunda questão propõe uma reflexão com
relação ao interesse de leitura dos possíveis leitores, O que ler? E a terceira questão
está relacionada à função da leitura, Para que ler?
Considerando-se que a formação de leitores deve iniciar desde a infância,
pode-se dizer que os primeiros agentes incentivadores da leitura deveriam ser os
pais, já que as crianças são deles dependentes. Como as crianças ainda não sabem
4
(Grifo do autor).
27. 26
ler, pode-se citar como formas de incentivo à leitura, facilitar o contato delas com o
livro e também através da contação de histórias. Dentro dessa temática, Yunes
(1984, p.21) argumenta que:
[...] o hábito de leitura se inicia antes que a criança aprenda a ler: neste
paradoxo se registra a decisiva influência do contar/ouvir histórias, para
uma relação satisfatória com o universo da ficção, como complemento da
redução da realidade que as práticas sociais impõem.
Villardi (1999) propõe a associação do objeto livro à idéia de brinquedo, já que
a leitura suscita o prazer, e que, por meio dela, somos capazes de ingressar num
universo fantástico. A autora ainda afirma que:
Se a criança brinca, ela também é capaz de descobrir o lado lúdico do livro,
encantando-se com as surpresas que lhe estão reservadas a cada virar de
página. Sendo assim, quanto mais cedo a criança tiver contato com livros,
melhor; e quanto mais for capaz de ver no livro um grande brinquedo, mais
fortes serão, no futuro, seus vínculos com a leitura.
Reforçando a idéia de que a influência familiar faz a diferença para a
formação de leitores, Santos (2006, p.30) diz que tudo começa no seio familiar;
todos os principais exemplos de conduta que serão levados pela vida toda
estiveram ali durante rápidos e decisivos anos como em uma exposição de
fatos, princípios, comportamentos. É neste ambiente propício para a
construção da personalidade que se marca indelevelmente as vontades e
os anseios, os desejos e as motivações.
Se a criança chega à escola com certa familiaridade com o objeto livro, o
trabalho dos incentivadores da leitura na escola será facilitado. Neste caso, será
necessário apenas dar continuidade ao processo de formação de leitores.
Na escola, o professor é apontado geralmente como o principal agente
incentivador ao gosto pela leitura, já que é ele quem alfabetiza a criança. Mas
Aquino (1999) acredita que para que ele obtenha resultados com seu trabalho,
precisa conscientizar-se de que sua atuação não é individual e a formação de
leitores não depende unicamente do conhecimento da escola ou mesmo do ensino
da leitura ali sedimentado. Na visão da autora, são as experiências com o universo
natural, cultural e social que condicionam a formação do leitor no decorrer de sua
existência. Percebe-se a necessidade de conhecer as particularidades de cada
indivíduo na escola, para auxiliar no ensino da leitura e alcançar a efetividade.
28. 27
Com esta colocação não se pretende deixar a escola em segundo plano, pois
como afirma Pandini (2004), no processo de escolarização, a alfabetização pode ser
considerada uma condição à formação do leitor e uma possibilidade de
emancipação política, de criticidade e criatividade. Logo, é importante dar condições
para que o sujeito possa exercer seu direito de sentido. O que se quer deixar claro, é
que a escola e seus representantes precisam estar em constante interação entre si e
com o ambiente externo.
Um dos principais critérios para que a criança se torne um leitor em suas
diversas fases de desenvolvimento é entender que:
Os livros devem ser introduzidos na vida da criança, de acordo com seu
nível de compreensão do mundo, seu nível de elaboração de pensamento e
sua experiência anterior. Isto significa que o livro “ideal” para a criança é
aquele em que ela encontra tanto elementos que ela já reconhece quanto
alguns elementos novos, a partir dos quais ela possa alargar seus
horizontes e enriquecer sua experiência de vida. (VILLARDI, 1999, p. 82).
Em se tratando das atividades de incentivo à leitura na escola, é possível
dizer que na educação infantil os educadores, deverão facilitar o contato da criança
com o livro e com a contação de histórias, o que proporcionará o encantamento e o
gosto pela leitura, pois como mostra Abramovich (1995, p.16):
Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas,
muitas histórias...Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e
ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de
compreensão do mundo...
Fator fundamental, que não deve ser deixado de lado, é tornar comum a
freqüência dos educandos à biblioteca, para que conheçam e tenham familiaridade
com este local de ensino e disseminação da informação desde a infância. Neste
espaço poderão conhecer um outro educador, o bibliotecário que também é um
agente incentivador da leitura, do qual trataremos mais adiante.
Nas séries iniciais, a criança passa a ter um contato mais estreito com o livro,
já que começa a dominar a linguagem escrita. Nesta fase será dada continuidade às
atividades iniciadas na educação infantil, contudo elas podem ser incrementadas.
Nos momentos de contato com o livro, por exemplo, sugere-se que a criança tenha
liberdade de escolha de suas leituras e que não sejam agregadas atividades de
compreensão durante os momentos de leitura. Nesse período a criança, muito
curiosa, pode passar a conhecer as partes do livro. Também é possível despertar a
29. 28
sua curiosidade pelo autor, motivando-os a querer conhecer outras obras do mesmo
autor. A leitura precisa ser apresentada mais relacionada a uma prática de lazer e
distração, evitando resistências por parte dos educandos.
Segundo estatísticas internacionais citadas por Dinorah (1995 apud VARGAS,
2007, p.13), forma-se o leitor mais ou menos até os quatorze anos de idade, o que
reafirma a responsabilidade dos incentivadores da leitura para a existência de
cidadãos leitores, e futuros incentivadores da leitura.
Com base na citação acima, percebe-se que é fundamental a continuidade
das atividades de incentivo à leitura da educação infantil no ensino fundamental.
Nesta fase, com relação aos alunos de 5ª à 8ª série 5, torna-se ainda mais
importante o conhecimento das necessidades individuais e dos interesses de cada
aluno para que a formação do leitor possa ter continuidade. Com relação às crianças
de 5ª e 6ª série, Bamberger (2004) afirma que as atividades em grupo ajudam muito
para a continuidade do incentivo à leitura. O autor ainda diz que é muito importante
empregar sempre material de leitura de qualidade a fim de conscientizar melhor a
criança acerca da importância que ela tem, além de desafiá-las a darem o máximo
de si.
Já nas 7ª e 8ª série, quando já se está trabalhando com adolescentes
Bamberger (2004) diz que é importante que tanto meninos quanto meninas quase
não percebam a presença de ajuda externa, assim evitando maiores resistências.
Sabe-se que eles precisam de ajuda mais do que em qualquer outra fase do seu
desenvolvimento como leitores, pois nesse momento são tomados pela insegurança.
Nesse momento da vida escolar, eles precisam entender que os livros estão à sua
espera, que poderão ajudá-los a encontrar respostas para suas perguntas e indicar
soluções. Os trabalhos em grupo envolvendo livros são interessantes, jovens dessa
idade tem interesse por discussões do seu cotidiano, atividades que gostam de
praticar, por exemplo.
5
Atualmente a estrutura do Ensino Fundamental no Brasil vem sofrendo alterações. Não são mais 8
de ensino e sim 9 anos. Não se usa mais a expressão 1ª à 4ª série ou 5ª à 8ª série, mas sim Anos
iniciais e Anos finais do Ensino Fundamental. Vale lembrar que as escolas ainda estão se adaptando
a essas mudanças e esse novo quadro vale apenas para as crianças que estão ingressando na
escola a partir desse ano. Como essa pesquisa está sendo realizada em um momento de transição e
a realidade dos bibliotecários está ainda ligada à antiga estrutura do Ensino Fundamental, optou-se
por utilizar a antiga nomenclatura.
30. 29
Retomando a idéia de que o trabalho do professor não é individualizado,
pode-se dizer que este deve manter parcerias dentro do ambiente escolar para
desenvolver as atividades de incentivo à leitura. Inúmeros são os possíveis agentes
incentivadores da leitura na escola, entretanto, além do professor, trataremos do
bibliotecário como formador de leitores. Esse profissional carrega consigo
características de educador, já que media o acesso dos usuários à informação para
posterior produção de conhecimento.
4.1 O BIBLIOTECÁRIO COMO FORMADOR DE LEITORES
O bibliotecário é o indivíduo profissionalmente qualificado para atuar em
bibliotecas escolares, é ele o responsável pelo planejamento e gestão dessa
unidade de informação. Sua atuação deve ser apoiada tanto quanto possível por
equipe adequada, e também precisa procurar trabalhar em conjunto com todos os
membros da comunidade escolar e estar em sintonia com outras bibliotecas. (IFLA,
1999).
Até algum tempo atrás, eram exigidas dos bibliotecários, apenas
competências técnicas de organização e disponibilização do acervo confiado a eles,
além da gestão das unidades de informação. Atualmente o profissional bibliotecário
precisa ter muitas outras habilidades, além das técnicas, para se manter no mercado
de trabalho. Como argumenta Caldin (2005), em um mundo globalizado, os
procedimentos tradicionais não são suficientes, o bibliotecário tem de deixar de lado
seu papel passivo, de mero processador técnico de livros e desempenhar um papel
ativo: agente de mudanças sociais.
Na escola, o profissional bibliotecário assume a função de educador junto a
toda a comunidade escolar. Cavalcante (2005a) acredita na necessidade de
resignificar o papel do bibliotecário no ambiente educacional, cobrando dele
investimentos profissionais necessários como: criatividade, liderança, dinamismo e
aprendizagem contínua para poder fazer a diferença.
31. 30
Resignificar seu papel como profissional da informação, consiste em assumir
uma atuação mais humanizada, não somente tecnicista como antigamente. Pois,
conforme afirma Sales (2004, p.42):
Tratar a informação é muito mais do que catalogar e classificar, ou seja,
descrever e identificar o conteúdo temático dos documentos. Estes
processos são apenas parte de um conjunto de ações que irá possibilitar a
um cidadão o acesso a uma informação da qual necessita, seja ela técnica,
científica, cultural, para lazer ou de utilidade pública. O que importa pensar
é que o conteúdo que se está disponibilizando irá, de alguma forma,
aprimorar o conhecimento de alguém e, consequentemente, contribuir para
seu desenvolvimento pessoal, e mais, este conhecimento e o seu
desenvolvimento fatalmente irão lhe propiciar um pensamento mais crítico,
dando-lhe possibilidade de melhor entender e questionar sua realidade.
Sabe-se que os fatores que impossibilitam a ação social do bibliotecário são
inúmeros. Insuficiência de funcionário, a falta de reconhecimento por parte da escola
e a falta de espaço físico apropriado são alguns deles. Cabe refletir neste momento
se a falta de consciência, por parte do bibliotecário, da sua capacidade e
necessidade de atuação como agente social, também pode ser considerado um
empecilho. Considera-se que o bibliotecário é o principal responsável pela alteração
desses fatores, logo, cabe citar o que afirma Sales (2004, p. 56):
Uma vez ciente de seu papel de agente escolar, ciente de suas
responsabilidades pedagógicas que são diretamente relacionadas ao aluno
e ao trabalho do professor, o bibliotecário escolar pode mostrar à escola sua
importância dentro do contexto educacional. A partir de uma identidade
profissional bem formada e bem reconhecida pela comunidade escolar o
bibliotecário terá condições para desenvolver uma atuação pedagógica
plena.
O bibliotecário precisa adotar dinâmicas criativas de atividades planejadas
para fortalecer os laços entre ele, a biblioteca e a comunidade escolar, Cavalcante
(2005a) propõe algumas iniciativas que poderão trazer excelentes resultados para
que esse profissional possa desempenhar suas funções na escola:
Instituir e fazer funcionar um conselho da biblioteca constituído por: um
membro da direção, um representante do corpo docente, um representante
dos alunos, um funcionário e um representante dos pais;
Estar presente nos diferentes contextos educacionais da escola;
Desenvolver a cooperação literária entre a comunidade escolar;
Desenvolver, em conjunto com o conselho, projetos culturais, sociais e
comunitários;
32. 31
Promover encontros pedagógicos na biblioteca procurando agir como
líder e promotor;
Elaborar e negociar projetos para a biblioteca com a direção da escola;
Envolver os pais em atividades de leitura;
Participar do projeto político pedagógico da escola e das atividades de
planejamento, avaliação e treinamento, promovidos para os educadores;
Promover palestras, seminários e encontros para a comunidade
escolar;
Usar tecnologias para tornar mais dinâmicas as atividades e serviços
da biblioteca;
Já que o bibliotecário é considerado um educador, pretende-se apresentar
este profissional como um formador de leitores, tendo em vista que, quase sempre é
na escola que a criança tem seu primeiro contato com o livro. Na literatura são
6
apontadas algumas competências atribuídas a esse profissional para que ele seja
um formador de leitores. Cavalcante (2005a, p.11) faz uma importante reflexão a
esse respeito:
O bibliotecário - educador geralmente possui competências globais com
relação ao seu fazer profissional. Precisa lidar com várias especializações
de áreas que vão desde a seleção e aquisição, passando pelo
processamento técnico e adentrando no terreno da formação do leitor,
7
dinamização da leitura e planejamento.
Ser um leitor é um dos pré-requisitos para ser um formador de leitores. Caldin
(2003, p.9) apresenta reflexão sobre o assunto: Ler ou não – eis a questão. Se o
bibliotecário pretende assumir a posição de agente disseminador da leitura da
literatura infantil, precisa gostar de ler, tem de ler e deve incentivar a leitura. 8
Uma segunda competência atribuída ao bibliotecário é a erudição, que
também está ligada ao fato de se constituir como um leitor. Em outro artigo, Caldin
(2005, p.165) remete a esse pensamento quando diz que:
6
De acordo com Perrenoud (2000, p.16 apud Cavalcante 2005b, p.10) a descrição de competência,
na maioria das vezes, pode ser buscada por meio de três elementos complementares: - “Os tipos de
situações das quais dá um certo domínio; - Os recursos que mobiliza, os conhecimentos teóricos e
metodológicos, as atitudes, o savoir-faire e as competências mais específicas, os esquemas motores,
os esquemas de percepção, de avaliação, de antecipação e de decisão; - A natureza dos esquemas
de pensamento que permitem a solicitação, a mobilização e a orquestração dos recursos pertinentes
em situação complexa e em tempo real.”
7
(Grifo nosso)
8
(Grifo do autor)
33. 32
A biblioteca é um espaço cultural, criado e mantido para o usuário. Quem o
cria e mantém? O bibliotecário. Se ele cria e mantém esse espaço cultural,
tem a obrigação de ser culto. Originalmente o bibliotecário devia ser, antes
de tudo, um erudito. [...] Então o bibliotecário deve, por si mesmo, buscar o
que perdeu: ser um autodidata em cultura geral.
Como terceira competência atribuída ao bibliotecário educador e
conseqüentemente formador de leitores pode-se citar a necessidade de manter-se
continuamente atualizado por meio de um trabalho de educação continuada, e
conhecimento das novas tecnologias, pois esta é uma necessidade cotidiana para a
sua atuação profissional. (CAVALCANTE, 2005a).
O bibliotecário tem contato direto com os leitores, portanto precisa ser
comunicativo, procurar conhecer e manter diálogo aberto com seus usuários, para
conhecer seus gostos, interesses e necessidades. Pois, segundo Caldin (2003)
como agente disseminador da leitura, o bibliotecário de biblioteca escolar assume
compromisso com a criança de proporcionar-lhe textos de qualidade, que
intervenham na formação das mentes e seduzam para o exercício da reflexão.
Pode-se também citar como competência do bibliotecário formador de leitores
a necessidade desse profissional ter uma visão global do ambiente onde atua, pois
segundo Silva (2003b, p.71), [...] ao estimular o interesse pelos livros, ao encorajar o
hábito da leitura, ao contribuir para o desenvolvimento intelectual de cada um em
benefício de todos, o bibliotecário necessariamente tem que carregar consigo uma
visão da sociedade, de homem e de educação.
O mediador da leitura precisa refletir sobre experiências e vivências pessoais
e grupais quando estiver elaborando projetos para a formação de leitores em
sintonia com situações reais do cotidiano que viabilizem práticas concretas por meio
da história e da cultura de um local contribuindo com a transformação da realidade.
(Cavalcante, 2005b, p.8)
Procurar a interdisciplinaridade, ser um articulador, são características
importantes ao bibliotecário educador, pois como argumenta Silva (2003b), apesar
da existência de inúmeros discursos que tratam da promoção da leitura e que
mostram constantemente a necessidade do trabalho em equipe, união de esforços,
projeto coletivo, no Brasil ainda não aprendemos a “trabalhar junto”, para aprimorar
a educação dos indivíduos. Cabe ao bibliotecário também tentar mudar este quadro.
O dinamismo é uma característica apontada por Caldin (2005), ela afirma que
se a biblioteca é um organismo vivo, dinâmico, seus profissionais têm de agir com
34. 33
dinamismo, driblando as dificuldades financeiras e entraves burocráticos das
bibliotecas escolares, principalmente da rede pública.
Em seu artigo, Cavalcante (2005b) toma emprestadas, quatro das seis lições
apresentadas por Ítalo Calvino em sua obra “Seis propostas para o próximo milênio”,
para refletir sobre as competências do bibliotecário formador de leitores. A primeira é
a leveza, relacionada ao aprendizado da leitura na infância, através da contação de
histórias e da leitura de livros de literatura infantil. Assim como o conhecimento, a
leitura se constrói em pluralidade e interação de linguagens e conteúdos. A segunda
é a rapidez, pois para formar leitores são exigidas estratégias do bibliotecário, tendo
em vista a oferta crescente de atrativos imagéticos e comunicacionais, que também
são modos de ler.
A terceira é a visibilidade, disso depende o êxito do trabalho do bibliotecário
para construir uma dinâmica de mobilização em prol da formação de leitores críticos
e da importância da biblioteca, que deve constituir-se em lócus de diversidade. A
quarta lição é a multiplicidade, que leva a ver a leitura e o conhecimento como algo
plural, em construção, relacionada à produção, análise e interpretação dos
discursos, carregada de sentidos, representações e imaginários.
Além das lições apresentadas por Calvino, Cavalcante (2005b), acrescenta a
afetividade quando falamos de formação de leitores. Para ela existe a leitura que
nos torna afetivos, mais felizes, que auxilia no entendimento de que a felicidade é
direito de todos e que a leitura pode ajudar nessa descoberta. A autora diz que ler é
uma questão de vida, e vida em abundância. Talvez esta tenha sido a melhor
reflexão com relação às competências do bibliotecário.
A criatividade, citada no início dessa seção, também é característica
fundamental. Pois um profissional criativo desenvolverá atividades que instiguem as
crianças a também serem criativas, comunicativas e que busquem o acesso ao livro
e à leitura. Uma das atividades mais importante para a dinamização da biblioteca
escolar e incentivo à leitura é a contação de histórias que desperta a atenção de
crianças, adolescentes e adultos. Para Barcellos e Neves (1995, p.19):
A hora do conto amplia os horizontes da leitura, tornando a criança
consciente da existência de infinidade de livros de diversos temas, gêneros
e estilos, capazes de satisfazer suas necessidades individuais e seus
gostos, além de permitir a seleção de obras que mais se ajustem ao seu
grau de maturidade psíquica e intelectual.
35. 34
Ainda existem outras possibilidades de promoção da leitura, pode-se citar:
feiras de livros, mostra de livros e discussão sobre os mesmos, oficinas de contação
de histórias, produção de textos e imagens, clubes do livro e da leitura, exposição de
livros, oficinas de arte, encontros literários, lançamento de livros, encontro com o
autor, encontros culturais, oficinas para produção de jornais e livros, concursos
literários e principalmente proporcionar o acesso irrestrito ao livro.
A partir das reflexões feitas, pode-se dizer que a essência do papel do
bibliotecário é transformar a biblioteca em um centro promotor da leitura. Criar
vínculos entre pais, professores e bibliotecários representa fator de mudança e
progresso para a formação de leitores e cidadãos críticos na escola e fora dela.
Cabe citar Silva (2003b), educador que reconhece o papel de educador do
bibliotecário, quando diz que determinadas práticas de leitura dependem do ensino
proporcionado diretamente por bibliotecário no espaço das bibliotecas. As
competências para acesso aos textos desejados e as habilidade reorganizacionais
de leitura colocam-se no bojo daquilo que os bibliotecários têm que ensinar para dar
sua conta de contribuição à formação dos leitores.
Depende principalmente do próprio bibliotecário o reconhecimento de seu
papel de educador por parte da sociedade. Cabe a ele assumir essa identidade,
atuar de forma efetiva, interagir e apresentar-se com um formador de leitores e
profissional que, acima de tudo, cumpre seu papel social formando cidadãos
conscientes, críticos, verdadeiros leitores do mundo e da palavra como almejava
Freire (1989).
36. 35
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Como já foi citado no capítulo de metodologia, o método escolhido para a
organização e apresentação dos dados é a categorização. Optou-se pela utilização
de quadros, por possibilitarem o que se pode chamar de uma “fotografia” dos
resultados da pesquisa, ou seja, maior visibilidade dos dados para posterior análise.
Cada categoria é representada por um termo genérico que caracteriza os
temas tratados em cada uma das questões apresentadas durante a entrevista semi-
estruturada (ver Apêndice 1). Logo em seguida de cada quadro são apresentadas as
análises dos dados ali contidos.
Como a coleta de dados deu-se com os bibliotecários da Rede Municipal de
Ensino de Ensino de Florianópolis – SC, para cada entrevistado atribuiu-se um
código, a letra B, inicial do nome da profissão, seguida do número da entrevista.
Como foram nove os entrevistados, tem-se: B1, B2, B3, B4, B5, B6 e B7, B8 e B9.
Tem-se um total de 9 (nove) categorias, que serão apresentadas em
subseções. São elas: importância da leitura, atividades de incentivo à leitura,
formação de leitores, o bibliotecário e a formação de leitores, interação entre o
bibliotecário e o corpo docente, o bibliotecário como formador de leitores,
habilidades necessárias para a atuação como formador de leitores, ensinar a gostar
de ler e conversa informal.
5.1 IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Na primeira categoria são apresentas as opiniões dos bibliotecários da Rede
Municipal de Ensino de Florianópolis quanto à importância da leitura.
IMPORTÂNCIA DA LEITURA
B1: Considera a leitura importante culturalmente, para adquirir conhecimento, como forma de
lazer e prazer desde que não seja imposta e também para desenvolver a fala e a escrita.
37. 36
B2: Considera primordial para se informar e para formar cidadãos.
B3: Representa muita coisa, como um outro olhar sobre a vida, sobre a situação de vida própria
e do país. Possibilita conscientização, é algo grandioso, um escape das próprias vidas. Cita a
frase: “Ler é pegar o trem sem ter que pagar passagem”.
B4: Considera importante para o aprendizado, para a interpretação, para adquirir conhecimento,
ser crítico e tornar o cidadão politizado. Afirma que o bom leitor será um bom aluno.
B5: Afirma ser importante para formar leitores críticos, despertar a imaginação, aprimorar a
interpretação, para o aprendizado e desenvolver a escrita. Diz que com a leitura serão melhores
alunos.
B6: Considera importante para a leitura de mundo e para formar cidadãos.
B7: Acredita ser fundamental para a formação do ser humano, desenvolver a criticidade,
incentivar a escrita e incentivar a comunicação.
B8: Diz ser importante para formar cidadãos críticos e formar pessoas capazes de interferir no
processo político e econômico.
B9: Argumenta ser importante para se informar, ter noção dos direitos e deveres, adquirir
conhecimento. Diz que quem lê não é enrolado facilmente, na política, por exemplo.
Quadro 1 – Importância da leitura.
Nessa primeira categoria pode-se perceber que os respondentes entendem
que a leitura é fator condicionante para a formação e mudança na vida das pessoas,
acreditam principalmente que a leitura forma cidadãos. Os argumentos
apresentados estão de acordo com o que pensa Machado (2001, p.66), ao
apresentar as possibilidades que a leitura traz para o indivíduo, as quais podem ser
de ordem:
PESSOAL, se considerarmos o enriquecimento cultural, o acesso ao saber
acumulado e o prazer/lazer que propicia; ECONOMICO-SOCIAL, se
observarmos a maior chance de qualificação profissional e ascensão social;
POLÍTICA, se pensarmos que o indivíduo crítico e atuante, cidadão
emancipado, é um indivíduo que lê o seu mundo.
É importante perceber que o ato de ler também foi ligado ao lazer. Um dos
entrevistados diz que a leitura proporciona um escape das próprias vidas, olhando
por esse prisma é possível concordar com a afirmação de Llosa (199? apud SILVA
1997, p.11):
38. 37
Condenados a uma existência que nunca está à altura de seus sonhos, os
seres humanos tiveram que inventar um subterfúgio para escapar de seu
confinamento dentro dos limites do possível: a ficção. Ela lhes permite viver
mais e melhor, ser outros sem deixar de ser o que já são, deslocar-se no
espaço e no tempo sem sair do seu lugar nem de sua hora e viver as mais
ousadas aventuras do corpo, sem perder o juízo ou trair o coração.
Poder contar com profissionais que consideram a leitura importante para o
desenvolvimento e crescimento das pessoas é primordial para começar-se a pensar
em formação de leitores. Com as idéias apresentadas pode-se retomar a ligação
que propõe Silva (2003) entre leitura, conhecimento e cidadania, fatores que
interligados podem proporcionar a formação de leitores e acima de tudo cidadãos.
5.2 ATIVIDADES DE INCENTIVO À LEITURA
A segunda categoria trata das atividades de incentivo à leitura.
ATIVIDADES DE INCENTIVO À LEITURA
B1: Não desenvolve. Apresenta como empecilhos a rotatividade dos professores, falta de
parcerias e número reduzido de funcionários. Auxilia os professores em alguns projetos, mas
não existe um compromisso ou periodicidade. Acha as atividades muito prazerosas, mas não
sente falta porque trabalha sozinha e tem muitos afazeres com os trabalhos técnicos.
Já desenvolveu hora do conto, mas a falta de parcerias acabou dificultando a atividade.
Cita a realização de dia da troca de livros semanalmente, com agendamento para os alunos de
1ª à 4ª séries e de forma livre para os de 5ª à 8ª, mas não demonstra reconhecer como uma
atividade de incentivo à leitura.
B2: Desenvolve atividades, como projetos em parceria com os professores, o dia da troca de
livros com os alunos de 1ª à 4ª toda semana e 5ª à 8ª quinzenalmente. As crianças contam
histórias na biblioteca e fazem desenhos das histórias que leram, é um jeito informal de discutir
as histórias que encontraram no livro emprestado.
A partir dessas ações, percebe a maior freqüência dos alunos na biblioteca, acredita que a
melhoria do acervo é um fator de atração. A freqüência é muito grande na hora do recreio.
A hora do conto era realizada, mas em função da instalação da biblioteca estar precária não tem
sido feito nos últimos meses. Apenas quando um professor vai para o dia da troca e resolve
fazer, sem compromisso.
B3: São desenvolvidas essas atividades. Fazem o dia da troca de livros, mas relata como sendo
também o dia da troca da leitura, troca de informações e de idéias sobre o que cada um leu, de
forma livre, uma conversa sobre literatura. Os alunos já estão bem habituados a essa atividade.
Faz a hora do conto mensalmente para as 16 (dezesseis) turmas da escola, uma turma de cada
39. 38
vez, na biblioteca.
Acontece também o Projeto de Leitura Coletiva, toda a escola para por vinte minutos,
quinzenalmente para leitura conjunta, independente de suas funções.
Percebe como resultado a maior procura das crianças por um título específico, indicado por
algum colega ou que foi contado na hora do conto. Diz que se cria uma outra consciência de
leitura entre os alunos. A maioria das atividades são propostas pela bibliotecária, mas sempre
em parceria com o corpo docente.
B4: Não realiza mais atividades de incentivo à leitura, porque os bibliotecários da rede estão
enquadrados no quadro civil e são pagos para desenvolver atividades técnico-administrativas e
não pedagógicas, segundo argumentos proferidos durante a última greve dos bibliotecários,
segundo o entrevistado. Portanto, o mesmo parou de desenvolver atividades de cunho
pedagógico como as de incentivo à leitura.
Argumenta que precisa de ao menos mais uma pessoa para auxiliar nas atividades da
biblioteca.
Anteriormente realizava a hora do conto conforme à idade dos alunos, atividades com música
na biblioteca (violão), projetos de iniciação à pesquisa (reconhecimento do espaço e
organização da biblioteca, das fontes de informação e de como recuperar a informação, além do
desenvolvimento da escrita de um trabalho escolar). Acredita nas atividades que façam com que
os alunos se apropriem do conceito de que biblioteca é um ambiente agradável.
Atualmente na biblioteca acontece semanalmente o dia da troca de livros com os alunos de 1ª à
4ª série e procura fazer indicações de livros.
B5: Atualmente a única atividade de incentivo à leitura realizada é o dia da troca, que acontece
semanalmente com os alunos de 1ª à 4ª série. Nesse momento o bibliotecário procura fazer
indicações de livros. Além dessa atividade, citou a hora do conto que era realizada em anos
anteriores e está sendo retomada no mês de setembro e a participação de concursos da
Câmara Catarinense do livro, onde os alunos geralmente se destacam.
B6: Realiza a hora do conto, concurso de poesia, dia da troca com indicação de leituras e
exposição de novas aquisições. As duas primeiras atividades não obedecem periodicidade
definida, já o dia da troca acontece semanalmente. A partir dessa última, percebe maior
freqüência dos alunos na biblioteca e aumenta o número de empréstimo de livros. As atividades
são propostas pelo bibliotecário junto com o corpo docente e também acontece a participação
do bibliotecário em atividades conforme o planejamento de aulas do professor.
B7: Realiza o dia da troca semanalmente com agendamento para 1ª à 4ª série, já os alunos de
5ª à 8ª o horário é livre. São desenvolvidos projetos em conjunto com os professores como o
concurso de poesias. Já fez a hora do conto com periodicidade definida, mas por estar sozinha
na biblioteca não faz mais devido a falta de tempo para preparar a atividade, a menos que
aconteça de ter tempo sobrando.
B8: Realiza a hora do conto vinculada a algum projeto (ex: junto com um projeto sobre um
poeta). Também acontece o dia da troca de livros com agendamento semanal e toda quarta-
feira é o dia da troca de gibis. Com essas atividades percebe maior interação dos alunos com a
biblioteca e que eles já a reconhecem como um local de formação dos indivíduos. Todas as
atividades são propostas em parceria com os professores e essa é uma condição que a
bibliotecária impõe.
B9: Acontece semanalmente o dia da troca de livros e em paralelo são realizadas atividades
relacionadas aos livros. São feitas atividades visando a conscientização da necessidade do
cuidado com o livro, são exibidos vídeos infantis geralmente fazendo relação com alguma
história disponível num livro na biblioteca, também são lidas histórias durante as visitas à
biblioteca. O bibliotecário mantém um projeto de iniciação à pesquisa desde a 1ª série. Também
existe uma atividade diferenciada que tem como fim a publicação mensal em um jornal local. É
40. 39
proposto um assunto e a partir dele é feita uma pesquisa pelas crianças, orientadas pelo
bibliotecário. Posteriormente é elaborado um desenho ou texto conforme a série e então é
enviado para o jornal. O profissional percebe resultados positivos a partir dos comentários de
alguns professores sobre as crianças e o que elas falam em sala de aula.
Quadro 2 – Atividades de incentivo à leitura.
Nessa categoria é possível constatar que os bibliotecários percebem que é
necessária a proposição de atividade de incentivo a leitura nas bibliotecas, que esta
é uma das funções da biblioteca escolar. É possível identificar essa preocupação na
fala de um dos bibliotecários:
Então a nossa visão como bibliotecários escolares, mas particularmente a
minha é assim, é que tem que fazer essas atividades para despertar o hábito da
leitura, fazer atividade para que eles se apropriem do conceito de que a biblioteca é
um ambiente agradável, prazeroso, onde eles vão ter várias emoções, em que eles
vão encontrar um livro de romance que vai fazê-los chorar, vai encontrar um livro de
piadinhas que eu tenho ali que vai fazê-los rir, um livro de charada que vai fazê-los
desenvolver o pensamento. (B4)
Uma das atividades, citada pela maioria dos bibliotecários como atividade de
incentivo à leitura, foi o dia da troca de livros. Porém, um dos respondentes que
afirmou realizar essa ação em sua biblioteca, não demonstrou reconhecê-la como
atividade de incentivo à leitura. Esta reflexão pode levar ao seguinte
questionamento: será que a troca de livros pode ser considerada uma atividade de
incentivo a leitura? Pode-se dizer que somente será uma atividade de incentivo à
leitura se junto com ela houver um propósito, um acompanhamento do mediador
entre o usuário e o livro.
Por outro lado, um dos bibliotecários caracteriza essa atividade em sua
unidade de informação como além de uma troca de livros, também ser uma troca de
leitura, de idéias e informações. Torna-se importante perceber que este momento de
“liberdade” dentro da biblioteca pode se transformar em um momento para
desenvolver muitas habilidades. A criança pode ser instigada a indicar ao colega um
livro que leu, ou a contar parte da história que leu na semana anterior, mas tudo com
muita sutileza, para que o aluno não se sinta obrigado. É importante que seja
espontâneo, pode começar com o bibliotecário relatando alguma história e indicando
a mesma para leitura.
41. 40
Cabe ao mediador ser criativo e procurar envolver os estudantes de modo
que consigam desenvolver habilidades e colher frutos dessas ações como é
afirmado no trecho a seguir:
O promotor de leitura narra e executa diversas atividades, mediante as
quais busca que as crianças relacionem o texto que lêem com diferentes
aspectos de sua realidade circundante, com outras manifestações culturais
(artes plásticas, música, teatro) e, inclusive, com as leituras anteriores,
oportunizando um valioso exercício de intertextualidade. (ANDRICAÍN;
MARÍN DE SASA; RODRÍGUEZ, 1993, p. 20 apud BARCELLOS ; NEVES
1995, p. 18).
A hora do conto ainda é reconhecida como uma das principais atividades de
incentivo à leitura nas bibliotecas escolares. Este pode ser um primeiro passo para
iniciar o processo de interação da criança com o livro. Ouvir histórias, além de
despertar a imaginação, instiga a criança a conhecer novas histórias ou até mesmo
a querer conhecer o livro que foi lido na contação de histórias. Alguns bibliotecários
afirmam que o livro utilizado para a contação de histórias geralmente é o mais
procurado na biblioteca por um bom tempo.
Qualquer atividade a ser realizada na biblioteca precisa ter um propósito e ser
muito bem planejada. Fazer por fazer dificilmente trará algum resultado. Trabalhar
em parceria com o professor é um ponto positivo, pois as ações de incentivo à
leitura podem começar na biblioteca e continuar em sala de aula, ou vice versa.
Observando a fala de um dos respondentes isso fica bem claro, por exemplo, com
relação à contação de histórias: Tem que parar de ver a hora do conto como uma
aula de biblioteca e sim como um apoio que o professor tem e sendo uma troca, vice
e versa uma via de mão dupla, é assim que eu vejo que deveria ser. (B2).
Percebe-se que alguns dos respondentes consideram importante que os
alunos reconheçam a biblioteca como um ambiente aconchegante, atraente e
agradável. Esse pode ser considerado um pré-requisito para que exista certa
freqüência na biblioteca e então para que o acesso ao livro e o gosto pela leitura
tornem-se comuns.
A esse respeito, Cavalcante (2005a) acredita que do ponto de vista
qualitativo,
42. 41
a biblioteca deve contar com um espaço adequado às suas funções,
proporcionando ao leitor/pesquisador condições para realizar seu trabalho.
Necessita estar situada em local estratégico e de grande circulação de
professores e alunos para que possam sentir-se convidados a freqüentá-la,
de preferência em espaços térreos.
Ainda foram citadas as atividades de iniciação à pesquisa, de conscientização
da necessidade de cuidado com o livro e concursos de poesias como ações de
incentivo à leitura. Desenvolvendo esse tipo de atividade, os bibliotecários
possivelmente estarão formando estudantes, leitores e cidadãos.
Com relação aos resultados obtidos com as atividades de incentivo a leitura,
percebem que a freqüência dos alunos à biblioteca aumenta muito, além de crescer
o número de empréstimo de livros. Um dos bibliotecários diz que se cria uma outra
consciência de leitura, entende-se por isso, que a leitura passa de mais uma
obrigação escolar para uma ação prazerosa, realizada com desprendimento e
espontaneidade. O reflexo das atividades na biblioteca também é reconhecido em
sala de aula, durante os diálogos com os professores e até mesmo nas atitudes dos
educandos. É percebido, além disso, maior interação dos alunos com a biblioteca e
o bibliotecário. Pode-se dizer que é a partir desses resultados que se tem noção dos
impactos das atividades de incentivo à leitura nas bibliotecas escolares.
O fato das atividades serem propostas, na maioria das bibliotecas da Rede
Municipal de Ensino de Florianópolis, por bibliotecários e professores, demonstra
que já vem sendo desenvolvida uma cultura de compartilhamento de saberes entre
esse dois agentes formadores de leitores dentro da escola.
Ainda pretende-se dar destaque a uma atividade de incentivo a leitura
proposta na biblioteca onde o entrevistado B3 atua. O Projeto de Leitura Coletiva é
algo novo e que vem dando certo. A leitura como exemplo é uma das melhores
formas de incentivar o gosto pela leitura. Compartilhar momentos de leitura em voz
alta ou apenas num espaço comum representa um incentivo a mais para a formação
do aluno leitor, além de comprovar que a leitura precisa estar presente na vida de
qualquer pessoa, seja aluno, professor, merendeira, zelador, bibliotecário ou diretor
da escola.
Em algumas bibliotecas, não são desenvolvidas atividades de incentivo à
leitura além do dia da troca de livros. Ponto comum, que impede a realização de tais
atividades, é a falta de mais uma pessoas para auxiliar nas atividades técnicas, além
de ter sido citado o fato dos bibliotecários fazerem parte do Quadro Civil de
43. 42
funcionários da Prefeitura Municipal de Florianópolis, o que teoricamente limita a
ação dos bibliotecários, já que são atribuídas apenas atividades técnico-
administrativas aos funcionários que fazem parte desse quadro.
Uma solução para este problema talvez fosse a contratação de um estagiário
para as bibliotecas das escolas de 1ª à 8ª série, como propõe o entrevistado B7:
O que peca ainda na biblioteca escolar é você ser sozinha. Eu acho que o
trabalho ia ser muito mais rico se tivesse alguém para atender, carimbar e tu ficar
solta com eles aqui, porque um tempo a gente teve estagiário, eu acho que ano
retrasado, então o estagiário ficava sentado ali fazendo esse trabalho mais técnico
que é automático e tu conseguia sentar no tapete, folhear o livro com eles, mostrar,
ir com o adolescente na estante pegar o livro. [...] Tu não consegue estar direto com
o aluno. Então eu acho que quando tu consegues estar junto com o aluno mostrando
incentivando e conversando, quando há esse tempo, tu consegues fazer muita coisa
com eles.
Acredita-se que esta não será uma conquista fácil. Analisando-se a situação
atual das bibliotecas em todo o país, percebe-se que as bibliotecas do Município de
Florianópolis estão muito a frente das outras, pois contam com um bibliotecário em
cada biblioteca. Apesar de ser uma necessidade é inegável que este é um avanço e
tanto. Entende-se que nesse momento cabe ao bibliotecário, mesmo com algumas
dificuldades, tentar mostrar a importância das bibliotecas como incentivadora da
leitura e formadora de cidadãos nas escolas. Então, a partir disso lutar pela
contratação de alguém para estar ajudando-o.
5.3 FORMAÇÃO DE LEITORES
A terceira categoria apresenta as opiniões dos bibliotecários da Rede
Municipal de Ensino de Florianópolis com relação à formação de leitores.
44. 43
FORMAÇÃO DE LEITORES
B1: Prática importante, mas difícil de ser colocada em prática. Exige uma continuidade e precisa
iniciar em casa. Acredita que o convívio diário com a leitura e o exemplo vindo de casa são
fundamentais para a formação de leitores. Argumenta que a estrutura física da biblioteca
precisar ser melhorada para proporcionar um ambiente agradável para a leitura e que há muito
para ser feito.
B2: Considera uma prática importante. Acredita que é preciso estabelecer uma parceria com o
professor para atuar na formação de leitores. Diz que se deve mostrar ao leitor a variedade de
suportes de informação existentes.
B3: Acredita que não se pode formar ninguém, não gosta de usar esse termo. Diz que se
podem dar meios para que os indivíduos comecem a perceber a leitura, o ser leitor. Argumenta
que ser leitor é uma liberdade.
B4: Considera a formação de leitores importante. Acredita que a biblioteca é um ambiente
cultural e deve ser reconhecido como espaço prazeroso e agradável. É uma atividade de cunho
pedagógico importante para o desenvolvimento dos indivíduos e para a formação de sujeitos
críticos.
B5: Acha a formação de leitores importante não só na vida escolar, mas também para a vida em
geral.
B6: Considera uma prática importante para o crescimento de todo indivíduo.
B7: Considera uma prática muito importante e define como uma longa caminhada. Pelo tempo
de atuação na escola, consegue perceber o efeito da prática de formação de leitores pelas
visitas mais freqüentes à biblioteca, pedidos de indicações de livros e até mesmo pelo zelo
conferido ao material disponível na biblioteca.
B8: Diz que é essencial para a formação não só do aluno, mas da pessoa como um todo.
Consegue perceber um retorno da ação de formar leitores na escola onde trabalha, pela
freqüência dos educandos na biblioteca, sugestão de novos títulos e pelas suas opiniões quanto
às questões referentes à biblioteca. Diz que formar um leitor é muito complexo. Afirma que não
se forma um leitor dos sete aos catorze anos, porque ser leitor é para a vida inteira, é um
processo lento e complexo. Acredita que se pode iniciar a pessoas para gostar de ler e este é o
início para ser leitor.
B9: Com certeza é uma prática importante, acredita que a formação de leitores é uma ação que
deve iniciar em casa e ter continuidade na escola.
Quadro 3 – Formação de leitores.
Na categoria Formação de leitores, os bibliotecários reconhecem a formação
de leitores como prática importante na escola. É considerada uma ação complexa e
que precisa ter continuidade. Dois deles preferem dizer que não se formam leitores,